Entenda as exigências do COAF e como sua instituição pode se preparar

entenda as exigências do COAF e como sua instituição pode ser preparar

Nos últimos anos, o termo COAF tem ganhado cada vez mais destaque no noticiário e nas reuniões de compliance e auditoria de empresas, especialmente no setor financeiro. Não é para menos. As exigências desse órgão vão muito além de uma simples burocracia: elas são peças-chave na luta contra crimes como a lavagem de dinheiro e o financiamento ao terrorismo.

Se você trabalha em uma corretora, distribuidora, fintech, banco de investimento ou até mesmo em um escritório de advocacia ou contabilidade, é fundamental entender o que o COAF espera de sua organização — e, principalmente, como se preparar para atender a essas demandas com tranquilidade.

Este artigo vai te guiar por esse processo de forma prática, explicando as principais obrigações, os riscos de não cumpri-las e o que você pode fazer para proteger sua operação.

O que é o COAF e qual é sua função?

O COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) é a Unidade de Inteligência Financeira do Brasil, responsável por identificar, monitorar e comunicar movimentações financeiras suspeitas que possam estar relacionadas a lavagem de dinheiro, corrupção, crime organizado, fraudes fiscais, entre outros ilícitos.

Embora esteja vinculado ao Banco Central, o COAF atua de forma autônoma e técnica. Sua missão principal é coletar dados, cruzar informações, detectar padrões suspeitos e repassar esses dados aos órgãos competentes, como Receita Federal, Ministério Público e Polícia Federal.

Quem deve cumprir as exigências do COAF?

A lista é ampla e vai muito além dos bancos. Estão obrigados a seguir as diretrizes do COAF:

  • Corretoras de valores
  • Distribuidoras de títulos
  • Instituições de pagamento
  • Gestoras de recursos
  • Casas de câmbio
  • Cooperativas de crédito
  • Contadores e auditores
  • Advogados (em algumas situações)
  • Imobiliárias
  • Joalherias
  • Entidades de previdência complementar
  • Fintechs e startups financeiras

Cada setor tem suas normas específicas, mas todos compartilham um objetivo comum: prevenir que suas estruturas sejam usadas para esconder ou movimentar dinheiro de origem ilícita.

Principais exigências do COAF: o que você precisa saber

1. Cadastro obrigatório

Empresas e profissionais obrigados devem se cadastrar junto ao COAF e manter seus dados atualizados. Isso vale desde o momento da constituição da empresa ou início da atividade regulamentada.

2. Comunicação de operações suspeitas

Você não precisa comprovar que uma operação é criminosa. Basta identificar indícios ou sinais de alerta. O COAF exige que transações com padrões incomuns, incompatíveis com o perfil do cliente, sejam comunicadas por meio eletrônico, em prazos definidos.

Exemplos:

  • Transferências muito acima da média
  • Operações fracionadas com objetivo de ocultar valores
  • Movimentações em paraísos fiscais
  • Oscilação significativa no volume financeiro ou frequência de negócios
  • Mudança repentina de modalidade operacional usualmente utilizada pelos envolvidos
  • Transferências privadas de recursos e de valores mobiliários sem motivação aparente
  • Cenários de práticas abusivas, fraudulentas ou não equitativas
  • Oscilação e manipulação de preços

3. Declaração de Não Ocorrência

Mesmo que nenhuma operação suspeita tenha sido identificada no período, algumas categorias precisam enviar a Declaração de Não Ocorrência dentro do prazo legal. Essa medida reforça a responsabilidade de monitoramento contínuo da instituição.

4. Implantação de políticas internas de prevenção

Além de monitorar e comunicar, sua instituição deve possuir um programa interno de compliance que inclua:

  • Políticas e procedimentos específicos
  • Treinamento da equipe
  • Avaliação de riscos
  • Mecanismos de controle e auditoria
  • Identificação e verificação de clientes (Know Your Customer – KYC)

5. Manutenção de registros

As operações monitoradas e comunicadas devem ser armazenadas por pelo menos 5 anos, com acesso rápido em caso de fiscalização ou auditoria. A rastreabilidade é um requisito central.

O que acontece se você não cumprir?

As penalidades não são brandas — e não se limitam a advertências. O não cumprimento das normas do COAF pode gerar:

  • Multas que variam conforme o setor e o grau da infração
  • Suspensão ou cassação da autorização de funcionamento
  • Responsabilização civil e criminal dos responsáveis
  • Dano reputacional grave

Além disso, a falta de preparo pode gerar desorganização interna, falhas em auditorias externas e perda de confiança por parte de investidores, parceiros e clientes.

Como se preparar para atender às exigências do COAF

Aqui está um passo a passo prático para quem deseja colocar a casa em ordem:

🔎 1. Faça um diagnóstico interno

Identifique os pontos fortes e vulnerabilidades da sua operação:

  • Existe política de compliance documentada?
  • Sua equipe é treinada para identificar transações suspeitas?
  • Há registro e histórico de comunicações ao COAF?
  • O sistema atual permite gerar relatórios e rastrear movimentações?

2. Capacite sua equipe

Compliance não é papel exclusivo de um setor: é uma cultura. Faça treinamentos periódicos com todos os colaboradores que lidam com clientes, movimentações financeiras e cadastros.

 3. Invista em tecnologia

Sistemas automatizados ajudam a:

  • Identificar padrões suspeitos em tempo real
  • Cruzar dados com listas restritivas (PEPs, OFAC, ONU)
  • Emitir alertas para o time de compliance
  • Gerar relatórios completos e auditáveis
  • Controlar acessos e manter rastreabilidade

Isso reduz falhas humanas, melhora a eficiência e evita atrasos em comunicações obrigatórias.

 4. Formalize processos e responsabilidades

Tenha um manual de compliance, fluxogramas de decisão, políticas internas claras e registros de atualização. Isso facilita auditorias e protege a instituição em caso de fiscalização.

 5. Atualize-se com frequência

A legislação muda. As diretrizes também. Acompanhe as comunicações do COAF, participe de fóruns, leia boletins técnicos e mantenha sua operação compatível com os padrões mais recentes.

Conclusão

O combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo é uma responsabilidade coletiva — e estratégica. Estar em conformidade com o COAF não deve ser visto como um custo, mas como um investimento em segurança, reputação e sustentabilidade.

A boa notícia é que, com organização, tecnologia e uma cultura voltada para integridade, é possível cumprir todas as exigências com tranquilidade — e transformar o compliance em um diferencial competitivo para sua instituição.